Call e put são instrumentos fundamentais no mercado de commodities, especialmente para quem atua no agronegócio.
Esse mercado é composto por bens primários — como soja, milho, café e açúcar — que possuem cotação em bolsas de valores e servem como insumos essenciais para diversos setores da economia.
Essas matérias-primas apresentam fortes oscilações de preço ao longo do ano, influenciadas por fatores climáticos (safras afetadas por seca ou excesso de chuva), variações cambiais, condições logísticas e até cenários geopolíticos.
Entender o funcionamento das calls e puts é um imprescindível para quem busca proteger margens, planejar receitas e reduzir incertezas junto às flutuações constantes do mercado de commodities.
Neste artigo, vamos entender os principais pontos sobre as opções call e put. Continue a leitura!
O que são as opções call e put?
As opções call e put são contratos derivativos que conferem ao comprador o direito (mas não a obrigação) de negociar um ativo (no caso, uma commodity) por um preço previamente acordado, até uma data específica (vencimento).
No agronegócio, elas oferecem mecanismos para que negociantes se protejam contra oscilações de preço, assegurando margens de lucro ou limites máximos de custo.
Call
A opção call é um contrato que dá o direito de comprar um ativo (ex.: sacas de soja) por um preço fixo até uma data futura. É usada por quem:
- Espera alta nos preços da commodity;
- Quer travar custos de insumos (como fertilizantes);
- Busca proteção contra escassez ou aumento de demanda.
Como funciona?
- Prêmio: ao adquirir uma call, o comprador paga um valor inicial, chamado de prêmio, à outra parte (lançador ou “vendedor” da opção).
- Exercício ou expiração: se, até o vencimento, o preço de mercado da commodity subir, o titular pode exercer a call e comprar ao valor acordado — garantindo um custo inferior ao preço de mercado. Caso o preço de mercado permaneça abaixo, a call expira sem valor, e o comprador perde apenas o prêmio pago.
- Proteção e alavancagem: para quem precisa de insumos, a call representa um “seguro” contra elevações de preço. Para especuladores, é uma forma de alavancagem, pois um pequeno prêmio pode resultar em ganhos significativos caso o ativo suba muito acima do preço acordado.
Exemplo prático de call
Para entender melhor, uma distribuidora de insumos precisa comprar 1.000 toneladas de ureia em quatro meses e adquire uma call com preço de exercício de R$ 1.050 por tonelada, pagando R$ 30 de prêmio por tonelada.
Se, no vencimento, o preço de mercado subir para R$ 1.150/t, a empresa exerce a call e compra a R$ 1.050, economizando R$ 70.000 em comparação à compra direta, descontado o prêmio.
Se o preço ficar abaixo de R$ 1.050 (por exemplo, R$ 1.020/t),a opção expira sem valor e a distribuidora compra no mercado à vista, perdendo apenas o prêmio, mas ainda aproveitando o custo mais baixo.
Put
A opção put é um contrato que concede ao comprador o direito de vender um ativo por um preço combinado até uma data específica. É ideal para quem:
- Antecipa queda nos preços da commodity;
- Deseja garantir um preço mínimo para sua safra;
- Precisa proteger receitas contra volatilidade.
Como funciona?
- Prêmio: ao comprar uma put, o produtor paga um prêmio ao lançador, que assume a obrigação de comprar a commodity caso a opção seja exercida.
- Exercício ou expiração: se o preço de mercado da commodity cair abaixo do acordo antes (ou no dia) do vencimento, o titular exerce a put e vende ao preço fixado, evitando prejuízos maiores. Caso o mercado não sofra quedas e o preço permaneça acima do valor, a opção expira, e o produtor perde apenas o prêmio investido.
- Proteção de safra: Ao comprar puts, um valor mínimo de venda para a safra é “travado”, criando uma espécie de colchão contra variações de preço indesejadas.
Exemplo prático de put
Um distribuidor compra 500 toneladas de sementes de soja para revenda em cinco meses e adquire uma put com preço de exercício de R$ 170 por saca (R$ 8.500/t),pagando um prêmio de R$ 10 por saca (R$ 500/t).
Caso, no vencimento, o preço caia para R$ 160 por saca, ela exerce a put e vende a R$ 8.500/t, assegurando receita de R$ 4.000.000 mesmo após descontar o prêmio.
Se o preço subir para R$ 180/saca, a put expira, e a distribuidora vende a R$ 9.000/t, obtendo R$ 4.250.000 mesmo pagando o prêmio.
Qual a diferença entre opção de compra (call) e opção de venda (put)?
As opções call e put são ferramentas complementares, mas com propósitos e riscos distintos. Para escolher a estratégia certa, é essencial entender suas diferenças e os cenários em que cada uma se encaixa melhor.
Como as opções call e put são usadas no mercado de commodities?
No mercado de commodities, as opções call e put funcionam principalmente como instrumentos de gestão de risco, mas também podem servir a estratégias de especulação e arbitragem. Algumas das aplicações mais comuns são:
Proteção de custos para compradores de insumos (uso de call)
Empresas que precisam adquirir grandes volumes de insumos agrícolas podem comprar opções de compra (calls) para travar um preço máximo futuro.
Ao pagar apenas o prêmio da call, o comprador garante que não pagará mais que o preço de exercício, mesmo que o valor da commodity dispare até o vencimento.
Caso o preço caia ou se mantenha abaixo do preço de exercício, a call expira sem valor, permitindo ao comprador adquirir no mercado à vista a um custo menor, limitando a perda ao prêmio pago.
Proteção de receitas para produtores (uso de put)
Produtores rurais que planejam a venda de sua safra podem adquirir opções de venda (puts) para garantir um preço mínimo de venda.
Ao pagar o prêmio da put, o agricultor assegura que poderá vender a um valor determinado, mesmo que o preço à vista caia muito abaixo do mercado.
Se o preço de mercado permanecer acima do preço de exercício, a put expira sem valor, permitindo ao produtor vender no mercado à vista a preço mais alto. A perda máxima fica limitada ao prêmio pago.
Especulação e alavancagem
Na especulação, os traders que acreditam em movimentos de alta ou queda de determinada commodity podem comprar calls ou puts.
Como o custo inicial é apenas o prêmio, um pequeno movimento favorável no preço pode gerar retornos percentuais elevados, embora isso também implique riscos de perda total do prêmio se a opção expirar fora do dinheiro.
De outro modo, por permitir controlar um volume maior de commodity pagando apenas uma fração do valor (prêmio),as opções são instrumentos de alavancagem.
Isso atrai investidores que buscam ganhos potencialmente elevados, mas aumenta o grau de risco caso o mercado não se mova conforme esperado.
Arbitragem e estratégias combinadas
Operadores sofisticados podem combinar calls e puts de diferentes preços de exercício ou datas de vencimento para montar spreads (compra e venda simultânea de opções) ou straddles (compra simultânea de call e put no mesmo valor).
Essas estratégias visam lucrar com diferenças de volatilidade ou movimentos bruscos inesperados.
Em momentos de desequilíbrio entre preços futuros e de opções, traders podem estruturar operações que visam extrair lucro de pequenas discrepâncias, comprando e vendendo simultaneamente contratos de opções e futuros relacionados.
Planejamento de fluxo de caixa e orçamentário
Ao incorporar o custo de prêmios e definir os preços de exercício, empresas agrícolas conseguem projetar custos e receitas com maior precisão, definindo margens mínimas de lucro e alocando capital de giro.
Nos planejamentos anuais ou semestrais de safra, produtores e distribuidores incluem chamadas de call e put em conjunto com contratos futuros e seguro agrícola, formando uma estrutura de proteção contra volatilidade de preços e câmbio.
Como calcular o valor da margem ou prêmio de uma opção de compra (call) ou venda (put)?
Como já falamos, o prêmio de uma call ou put representa o custo que o comprador da opção paga ao vendedor para ter o direito (e não a obrigação) de comprar ou vender uma commodity a um preço pré-determinado até uma data específica.
No caso do vendedor da opção, especialmente em mercados futuros ou em operações alavancadas, é necessário também calcular a margem de garantia, valor depositado como segurança para cobrir eventuais oscilações de preço.
Vamos entender como esse valor é calculado e quais fatores influenciam diretamente o prêmio de uma opção.
Componentes do prêmio de uma opção
O prêmio de uma opção é formado por dois elementos:
Valor intrínseco
- É a diferença entre o preço atual da commodity no mercado e o preço de exercício (também chamado de preço-alvo ou preço fixado);
- Se a opção não está no lucro no momento do cálculo (ou seja, está “fora do dinheiro”),o valor intrínseco é zero.
Valor extrínseco (ou valor temporal)
- Reflete fatores como o tempo restante até o vencimento e a volatilidade esperada do mercado;
- Quanto mais tempo falta para o vencimento e maior a volatilidade, maior tende a ser esse valor.
Fatores que influenciam o valor do prêmio
O valor de uma call ou put varia de acordo com diversos fatores:
Colocando o cálculo em prática
Imagine uma cooperativa agrícola que precisa proteger o preço da venda do milho de seus associados e, ao mesmo tempo, travar o custo de compra de fertilizantes para a próxima safra.
Ela compra uma opção de venda (put) com preço de exercício a R$ 70/saca, pagando um prêmio de R$ 3/saca.
Se, no vencimento, o preço do milho estiver em R$ 60/saca, ela poderá vender por R$ 70/saca, protegendo a margem dos produtores.
Nesse caso:
- Valor Intrínseco: R$ 10 (R$ 70 – R$ 60)
- Prêmio pago: R$ 3
- Lucro líquido da operação com a opção: R$ 7/saca
Se, por outro lado, o preço do milho subir para R$ 75/saca, ela vende no mercado à vista e não exerce a put — perde apenas o valor do prêmio (R$ 3/saca),como um seguro não utilizado.
Paralelamente, para garantir que não pague mais que R$ 2.500/tonelada de fertilizante, a cooperativa compra uma opção de compra (call) com preço de exercício a R$ 2.500/tonelada, pagando um prêmio de R$ 80/tonelada.
Se, no vencimento, o preço do fertilizante estiver em R$ 2.800/tonelada, ela poderá comprar a R$ 2.500/tonelada, economizando na aquisição.
Nesse caso:
- Economia bruta: R$ 300/tonelada (R$ 2.800 – R$ 2.500)
- Prêmio pago: R$ 80
- Economia líquida da operação com a opção: R$ 220/tonelada
Se, por outro lado, o preço do fertilizante cair para R$ 2.300/tonelada, ela compra no mercado à vista e não exerce a call — perde apenas o valor do prêmio (R$ 80/tonelada),como um seguro contra alta de custos.
Principais aplicações de call e put no agronegócio
Abaixo, listamos as aplicações práticas desses instrumentos no setor:
Proteção contra queda de preços da safra (put)
As opções put são essenciais para produtores que buscam garantir um preço mínimo de venda para suas commodities, mesmo em cenários de queda brusca no mercado.
Cooperativas de café também utilizam essa estratégia para proteger associados durante períodos de superoferta global, assegurando receita estável para cobrir custos de produção, como maquinário e mão de obra.
Travar custos de insumos agrícolas (call)
A opção call permite que produtores e empresas travem o preço máximo de insumos estratégicos, como fertilizantes e energia.
Frigoríficos também usam essa ferramenta para congelar despesas com energia elétrica, essencial para refrigeração. A principal vantagem é o controle financeiro em cenários de inflação ou escassez de recursos.
Especulação e aproveitamento de tendências de mercado
Traders e fundos de investimento utilizam calls e puts para lucrar com oscilações de preços sem precisar lidar com o ativo físico.
A alavancagem (pagando apenas o prêmio) potencializa ganhos, tornando essa estratégia atraente para quem domina análises de mercado.
Estratégias combinadas
Combina uma put (proteção contra quedas) e uma call (limite de ganhos) para criar uma faixa de preço segura. A vantagem é o custo reduzido ou até zero, ideal para operações com margens apertadas.
Hedge cambial para exportadores
Exportadores usam opções para se proteger contra a desvalorização da moeda, que reduz o valor recebido pelas commodities. Essa estratégia é crucial em mercados com volatilidade política ou econômica.
Garantia de preço para contratos futuros
As opções complementam contratos futuros, ajustando a exposição ao risco. A flexibilidade permite adaptação a cenários imprevistos, equilibrando segurança e oportunidade.
Dicionário de termos do mercado de call e put
Para entender e avaliar opções de compra (call) e venda (put),é fundamental conhecer alguns termos usados no mercado de commodities.
- Contrato futuro: acordo para comprar ou vender uma commodity em data futura a um preço predefinido. Obriga as partes a entregar ou receber o ativo na data de vencimento, diferentemente das opções;
- Opção (call e put): contrato derivativo que confere ao comprador o direito (e não a obrigação) de comprar (call) ou vender (put) uma quantidade específica de commodity a um preço acordado, até uma data determinada;
- Preço de exercício (preço-alvo): valor predefinido pelo qual o titular da opção pode comprar (call) ou vender (put) a commodity. Também chamado de “preço-alvo” ou “strike”;
- Prêmio: valor pago pelo comprador da opção ao vendedor para garantir esse direito. Corresponde ao custo do “seguro” (call ou put). É pago adiantado e constitui a única perda fixa em caso de expiração sem exercício;
- Volatilidade implícita: expectativa do mercado sobre a oscilação futura do preço da commodity. Conseguida a partir dos preços atuais das opções. Quanto maior a volatilidade implícita, mais caro tende a ser o prêmio;
- Delta: sensibilidade do preço da opção em relação à variação de 1 ponto no preço da commodity;
- Theta: medida da depreciação diária do valor da opção em função da passagem do tempo. Quanto mais próximo do vencimento, mais rápido o valor extrínseco tende a desaparecer;
- Gamma: sensibilidade do delta em relação a variações do preço da commodity. Indica a convexidade: quanto mais alto o gamma, mais rápido o delta muda quando o preço da commodity varia;
- Vega: sensibilidade do preço da opção a alterações na volatilidade implícita. Vega alto significa prêmio muito sensível à mudança na percepção de risco do mercado;
- Vencimento: data limite em que o titular da opção pode exercer seu direito de compra (call) ou venda (put). Após essa data, a opção expira sem valor se não for exercida;
- Mercado OTC (Over-the-Counter): transações de opções realizadas fora da bolsa, diretamente entre partes (produtores, tradings, bancos). Contratos são personalizados em strike, vencimento e volume, mas apresentam risco de contraparte;
- Lote padrão: quantidade mínima de commodity definida pela bolsa para negociação de contratos futuros e opções (por exemplo, 450 sacas de soja). Permite padronização e maior liquidez;
- Liquidez: facilidade com que uma opção pode ser comprada ou vendida sem grande impacto no preço. Opções líquidas têm spreads (diferença entre bid e ask) menores;
- Spread: diferença entre o preço de compra (bid) e o preço de venda (ask) de uma opção. Spread alto indica menor liquidez e maior custo implícito para entrada ou saída de posição;
- Margem de garantia: depósito exigido pelo vendedor (lançador) da opção para cobrir possíveis perdas caso a posição se mova contra. Calculada com base em volatilidade, distância entre preço à vista e preço de exercício e dias até o vencimento;
- Open interest: número total de contratos abertos (não liquidados ou expirados) de uma determinada opção. Indica interesse e liquidez do mercado para aquele ativo derivativo;
- Hedge: estratégia de proteção contra variações de preços. No agronegócio, envolve o uso combinado de futuros, opções call e put para reduzir riscos de custo ou receita;
- Colaterais: ativos (caixa ou garantias financeiras) que compradores e vendedores depositam como segurança em operações de margem para cobrir possíveis perdas;
- Preço de liquidação: valor oficial calculado pela bolsa para fins de ajuste diário de margem das posições abertas. Pode divergir levemente do último preço negociado;
- Contrato de swap: acordo em que duas partes trocam fluxos de caixa baseados na variação de preços de commodities, câmbio ou juros. Complementa estratégias de hedge com opções e futuros;
- Arbitragem: compra e venda simultânea de posições relacionadas (futuros, opções, spot) para explorar pequenas discrepâncias de preço, gerando lucro quase sem risco. Requer mercado líquido e rápido acesso à informação;
- Venda coberta (covered call): estratégia em que o detentor da commodity (ou contrato futuro) vende uma opção call para gerar renda adicional de prêmio, aceitando vender o ativo ao preço de exercício se a opção for exercida;
- Ponto de equilíbrio (break-even): preço ao qual o titular da opção não tem nem lucro nem prejuízo, considerando o prêmio;
- In-the-Money (ITM) ou no dinheiro: call cujo preço de exercício é inferior ao preço à vista; put cujo preço de exercício é superior ao preço à vista;
- At-the-Money (ATM) ou no ponto: preço de exercício igual (ou muito próximo) ao preço à vista;
- Out-of-the-Money (OTM) ou fora do dinheiro: call cujo preço de exercício é superior ao preço à vista; put cujo preço de exercício é inferior ao preço à vista.
Este dicionário reúne os conceitos essenciais para quem atua no mercado de commodities e deseja conhecer a fundo como funciona a negociação de opções call e put.
Dominar esses termos é fundamental para planejar estratégias de hedge, interpretar cotações de prêmios e avaliar riscos antes de entrar em operações derivativas.
Gostou do conteúdo? Continue acompanhando nosso blog e as redes sociais!