O novo Coronavírus (Covid-19),tem trazido efeitos negativos à economia mundial. Mas como fica agricultura neste cenário? Quais serão os efeitos na cadeia de produção e comercialização de grãos?
O Coronavírus não vem afetando somente a área de saúde por todo o mundo, mas também, o mercado financeiro. Com isso, o agronegócio brasileiro pode sofrer as consequências juntamente com todos os países que fornecem produtos agrícolas, especialmente para a China.
De acordo com a Confederação da Agricultura do Brasil (CNA),a cadeia de produção e comercialização deve permanecer sem grandes alterações e o setor agrícola é a promessa e esperança econômica do país nesta crise.
Vamos entender até que ponto os efeitos podem ser positivos e/ou negativos?
Coronavírus e os impactos na economia brasileira
Os efeitos do novo coronavírus na economia mundial abalou os mercados financeiros na última semana. O dólar, por exemplo, chegou a passar dos R$ 5,00.
Neste cenário, a agropecuária pode ser afetada, principalmente a compra de insumos para a atividade, como ração, fertilizantes, agrotóxicos e sementes. Por outro lado, os produtos de exportação ficam mais competitivos. Vamos entender melhor sobre a atual situação da economia brasileira?
A queda do índice Bovespa:
Muitos indicadores econômicos estão refletindo a forte preocupação com o coronavírus (COVID-19),que foi declarado como uma pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde),órgão da ONU, no dia 11 de março.
No Brasil, tivemos forte queda do índice Bovespa (índice do mercado de ações das empresas brasileiras com capitais abertos),que teve uma impressionante queda de 41,5% em apenas 30 dias, entre 20 de fevereiro e 20 de março:
Índice de Ações IBOVESPA
Essa queda ocorreu em bolsas de todo o mundo. Nos EUA, o Índice Dow Jones, com as principais empresas industriais do país – como General Motors, Exxon, IBM e Goodyear – teve queda de 34,3%. A principal bolsa europeia, a bolsa de Frankfurt, teve queda semelhante, de 34,7%; a bolsa japonesa – Nikkei 225 – apresentou queda de 29,5% em um mês.
As menores quedas com a pandemia do coronavírus até o momento foram na bolsa australiana – 16,7% – e na bolsa de Shanghai, na China, com queda de 11,9% entre 20 de fevereiro e 20 de março.
Queda das principais bolsas mundiais
A desvalorização do real em relação ao dólar:
O segundo indicador que chamou muito a atenção no Brasil foi a forte desvalorização do real em relação ao dólar com o cenário de pandemia do coronavírus, passando de R$ 4,38 em 20 de fevereiro para R$ 5,02 em 20 de março, com desvalorização de 14,5%:
Desvalorização do R$ com o coronarívus
Essa desvalorização tem efeito duplo sobre a economia nacional:
- O primeiro ponto é negativo para os consumidores, que significa o encarecimento de produtos importados, como componentes eletrônicos, matérias-primas para produção de insumos químicos, inclusive na agropecuária e alguns componentes da construção civil e de bens duráveis, como o cobre e o aço;
- O segundo é positivo para os exportadores, que consiste na melhora dos preços em Real, especialmente de commodities, como uma forma de compensar a queda dos preços em Dólar no mercado internacional nesse período de pandemia.
A queda das bolsas internacionais e a desvalorização do Real refletem um fenômeno chamado de “herd effect”, ou “efeito de manada” dos investidores, que estão deixando de investir em ativos considerados de maior risco – como o mercado de ações, cambiais e de commodities – para investirem em ativos considerados mais seguros, como títulos de dívida pública norte-americana.
Naturalmente, existe uma expressiva revisão da expectativa das taxas de crescimento em todo o mundo para 2020.
No Brasil, segundo o boletim Focus do Banco Central de 20 de março, a expectativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil foi reduzida de 2,3% em fevereiro para 1,48%, o que representa uma queda de R$ 61,3 bilhões na economia brasileira nesse ano. O banco americano JP Morgan prevê queda de 4% do PIB dos EUA no primeiro trimestre.
Os governos dos países têm adotado diversas medidas para compensar, ou pelo menos, diminuir o efeito da paralisação na economia, como estímulos do FED (Federal Reserve, Banco Central dos EUA) que podem chegam a 1,5 trilhão de dólares na economia, superando o bailout (plano de resgate econômico) adotado para superar a crise do subprime em 2008. Além disso, o FED (Federal Reserve – Banco Central dos EUA) diminuiu a taxa de juros para 0,00 a 0,25% a.a., como medida de incentivo à economia.
No Brasil, o Ministério da Economia projeta até o momento um plano de R$ 170 bilhões para incentivar a economia, com diversas medidas para a manutenção do consumo, especialmente dos aposentados e dos mais pobres.
Na contramão da expectativa de mercado, o Banco Central brasileiro também reduziu a taxa SELIC de 4,25% para 3,75% a.a., a fim de incentivar a atividade econômica, com crédito mais barato. Soma-se a isso a diminuição dos compulsórios de depósitos a prazo (de 31% para 25%),a fim de aumentar o multiplicador bancário nesse momento de crise.
Coronavírus e agronegócio: como ficará o mercado?
Para as principais commodities agrícolas, como soja, milho e café, houve queda nos preços internacionais. No entanto, em função da alta do dólar, os preços reais não foram impactados.
Para o setor sucroenergético e o algodão, o maior problema foi a guerra do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou os preços nestes setores.
E o que podemos esperar a longo prazo?
Houve queda do preço em US$ no primeiro trimestre para as principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil no mercado internacional, como soja, milho, açúcar, café e algodão. Porém, em função da desvalorização do real, os preços dessas commodities em moeda nacional apresentaram aumento, conforme o gráfico:
Variação dos preços das principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil
As maiores quedas de preços em dólares ocorreram para o açúcar (15,1%), algodão (14,3%) e café (14,2%).
Já os maiores aumentos em reais foram identificados para a produção do milho (21,9%),seguida pela soja (9,8%) e café (7,7%).
Para a produção de soja, que está em pleno momento de colheita e de comercialização, alguns agricultores têm nos perguntado se devem vender ou segurar a produção. Muitos corretores e consultores têm orientado a venda imediata da produção, em função do risco de paralisação do comércio internacional e perda de capacidade logística de escoamento da produção.
Segundo relatório do USDA, Departamento de Agricultura dos EUA, em março há uma perspectiva de queda da produção mundial de soja de 358 milhões de toneladas na Safra 2018/19 para 341,7 milhões de toneladas na Safra 2019/20.
Também há uma previsão de aumento das importações mundiais de 145 milhões de toneladas para 150 milhões de toneladas na Safra 2019/20, o que irá resultado em um estoque mais apertado em 2020.
“O cenário do agro estaria normal sem o impacto do coronavírus?”
Se estivéssemos em um cenário “normal” – sem o impacto do coronavírus – existiria sim espaço para o aumento de preços.
Porém, no momento em que o cenário mundial é muito incerto, os produtores de soja devem ponderar que os preços em R$ estão em um patamar satisfatório, com um ganho de quase 10% desde o início do ano em moeda nacional.
Assim, em alinhamento com as boas práticas de gestão, de adoção de medidas para minimização de riscos, recomendamos também a venda da produção e um cuidado maior na venda para recebimento a prazo, já que os problemas de fluxo de caixa por parte dos compradores aumentam.
No caso do milho, também há uma expectativa de um estoque mais apertado em 2020, em função do aumento do consumo da China de 274 milhões de toneladas para 279 milhões de toneladas e expectativa de menor volume produzido pelos EUA, com queda de 364 milhões de toneladas para 347 milhões de toneladas na Safra 2019/20.
Para a cadeia de hortifrutis voltada para consumo interno, existem muitas incertezas em relação ao comportamento dos preços no curto prazo, com o fechamento de alguns centros de distribuição e queda de consumo.
Já para os produtos de exportação, os riscos de uma queda de faturamento são maiores, em função da paralisia do comércio internacional.
Para conhecer mais pontos importantes na economia, assista o vídeo no canal da Plantar Educação:
Como se manter otimista em tempo de pandemia?
Segundo a CNA, a produção agrícola não deve parar. Continuar com o abastecimento será muito importante para que todo o sistema possa, de fato, manter a população com acesso aos produtos básicos de alimentação, assim como o setor de saúde.
Do ponto de vista dos gestores e equipes, saibam aproveitar o tempo de maneira produtiva, avaliando seus negócios de maneira esperançosa, para quando essa crise passar, você poder realizar a retomada dos negócios com chave de ouro!
Lembre-se sempre de buscar informações seguras e utilizar o “tempo extra” para ler matérias que podem ajudar o negócio (o Blog do Grupo Siagri está sempre atualizado),ou até mesmo realizar cursos remotamente pela Plantar Educação.
Não há dúvidas que, tanto o agronegócio, quanto a economia brasileira, possuem fundamentos sólidos e que permitirão uma rápida recuperação após a absorção dos impactos iniciais da crise.
Nesse momento, porém, é importante que cada empresa trace suas próprias estratégias para se proteger dos efeitos adversos dessa crise, baseado na curva de conhecimento que possui do seu negócio.